A biologia tem se apresentado como uma grande referência para diversos aspectos da vida cotidiana. Discretamente, seus termos e conceitos avançam nas questões sociais, econômicas e empresariais permeando nosso entendimento sobre as relações. Analogias com a ecologia, os ecossistemas, o comportamento celular, o sistema nervoso e outros tantos, têm sido utilizados para o estudo, a compreensão e a proposição de novos caminhos em diversas áreas do conhecimento humano.
O título do artigo, que representa mais uma dessas analogias, refere-se à competição entre diferentes espécies, que convivem em um mesmo habitat, por recursos de utilidade comum, em particular, por alimento. Faz-me lembrar dos documentários sobre o Serengeti, região da África Oriental, no norte da Tanzânia e no sudoeste do Quênia, quando nos períodos de seca, manadas de animais de diferentes espécies ficam à espreita para saciar sua sede em um filete minúsculo de água. A dramaticidade da cena se amplia quando algum descuidado se torna refeição do seu predador.
Na economia é possível observar a competição de produtos diferentes pelos limitados recursos financeiros. Quando se podia ir ao cinema, antes da pandemia e do confinamento, era possível observar a disputa entre a pipoca e a Coca-Cola. São itens totalmente diferentes, mas pode ser que o consumidor tenha que escolher um ou outro, no caso de não ter o dinheiro para os dois. Essas rivalidades se repetem, em escalas diferentes, nas nossas vidas. Temos que fazer escolhas sobre opções totalmente diversas, simplesmente porque não há possibilidade de termos tudo o que queremos. Pode ser uma limitação de tempo, de dinheiro, ou de qualquer outro recurso escasso. É o caso da troca do carro versus a viagem, do apartamento novo ou de começar aquele sonhado negócio, da pós-graduação ou a da academia. Bens diferentes, benefícios diferentes, competindo entre si pela insuficiência de algum recurso.
A curiosidade sobre o tema veio à tona por uma situação particular, mas a abrangência de suas consequências é ampla. Desde o início da pandemia, motivado por compartilhar reflexões de qualidade, em contraposição a muita comunicação sem conteúdo que propaga nas redes, tenho escrito um artigo semanalmente. Além de publicar na Internet, tenho repassado para amigos queridos, os quais, felizmente, têm tido a benevolência de se mostrarem interessados e até elogiar os escritos, fato que me deixa extremamente feliz. Amigos são para essas coisas.
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Ocorre que, várias vezes, recebo algumas mensagens com o mesmo teor, dizendo, em síntese, que a(o) amiga(o) está atrasada(o), e que conseguiu apenas naquele momento ler o texto de alguma semana anterior, mas que em breve irá colocar a leitura em dia. Meus textos são curtos. Demandam no máximo cinco minutos de leitura. No entanto, ainda assim, são postergados. Esse adiamento, de forma alguma, representa desinteresse ou qualquer desprestígio, apenas reflete que a leitura dos meus artigos está concorrendo com as inúmeras atividades que estão ocorrendo simultaneamente. Eu mesmo, para que nenhum amigo se sinta culpado, também estou devendo a leitura de alguns textos curtos publicados por pessoas que gosto e respeito.
O mesmo ocorre com lives, com posts, com cursos, com livros (ou e-books) e com qualquer outra atividade, em especial, aquelas que habitam a nossa nova realidade cada vez mais virtual. Competem entre si pela nossa atenção, pelo nosso tempo. Procuram interferir simultaneamente com as nossas escolhas, não se importando se o objetivo é cultural, de lazer, profissional ou educacional.
Sobre o tema, vale a leitura do excepcional livro “A estratégia do Oceano Azul”, escrito por W. Chan Kim e Renée Mauborgne, onde se explora a diferença entre dos ambientes diferentes de negócios. O primeiro, denominado oceano vermelho, é onde regras, padrões, características e comportamentos são previamente conhecidos e cuja competição se faz basicamente por redução dos preços e, evidentemente, redução ainda maior dos lucros. Caso você esteja fazendo compras durante a pandemia, ou se já fazia antes, a visita aos supermercados é, em geral, uma vitrine viva desse ambiente. Marcas e mais marcas do mesmo tipo de produto, com características similares, competindo por sua atenção.
O segundo modelo, nomeado de oceano azul, escolhido como título do livro, ocorre quando alguma empresa consegue criar um novo mercado, com novas perspectivas e novos paradigmas. A competição torna-se irrelevante, posto que o produto é único, diferenciado e se transforma em objeto de desejo. O exemplo mais marcante é o “Cirque du Soleil”. Ao contrário da decadência circense, os espetáculos da marca atraem milhares de expectadores ávidos por diversão. Além do público tradicional, conseguiram trazer e encantar uma plateia de outros segmentos, como teatro, shows de mágica, esportes olímpicos e grandes eventos musicais. Já devo ter assistido seis ou sete apresentações e adorei cada uma delas.
Diante da consciência da acirrada concorrência, nem sempre entre iguais, cabe a cada um de nós buscar o melhor de si para que possa se destacar no meio de tantos concorrentes. Não se esqueça, no entanto, que sua família também compete pelo seu tempo e estes já são especiais pela própria natureza.
*Jeovani Salomão é empresário do setor de TICs e ex-presidente do Sinfor e da Assespro Nacional.